A traição – parte II

Eram apenas 16 horas, daquele dia e Nuray estava destroçada, arruinada, acabada. Sentia como se o mundo estivesse desabando sobre sua cabeça. O dia que havia começado tão bem, o rosto do lindo desconhecido que não saia de sua mente, que a chamara de linda e pedido seu contato, simplesmente desapareceu.

 Naquele momento ouvia um áudio e olhava fotos da traição de Alev, seu companheiro de anos. Aquele por quem sentia um carinho enorme, o homem pelo qual sentia um amor enorme, aquele por quem pôde enfrentar a tudo e a todos. Quem seria tão ruim, tão mal, para ter a capacidade e coragem de enviar aquele áudio e fotos? Quem a odiaria tanto? Desejar sua infelicidade a tal ponto? Eram tantos questionamentos e nenhuma resposta.

Nuray apenas pensava e lembrava em quantas coisas os dois passaram ao longo de 15 anos, que estavam sendo destruídas em questões de segundos. Uma lágrima escorreu em seu rosto. Ela chorava, não um choro de desespero, mas sentindo, pois, naquele momento não havia em quem confiasse para contar o que estava acontecendo. Nunca tivera amigos, não confiava nas pessoas, uma vez que já havia sido traída por aqueles que um dia disseram amá-la.

Nuray estava só e precisava decidir.  Como toda mulher de meia-idade, temia ficar só, recomeçar, ter que entrar numa briga com advogados pelos bens adquiridos ao longo dos anos. Não havia filhos para sofrer, para dividir guarda, para brigarem com que ficariam nos finais de semana, lutar por uma mísera pensão. Existia Nuray, apenas ela, que precisava decidir o que fazer. Que rumo tomar.

Mas Nuray, além de bela, era forte, já havia passado por muitas coisas, entretanto naquele momento desejava ser surda para não ter escutado o som da traição, ser cega para não ter a sua frente as provas de que Alev já não era mais digno de sua confiança, sua lealdade, seu amor.

Havia conhecido Alev em um momento que estava no fundo do poço, o aceitou, assim como ele a quis por perto. Ele também não estava em um bom momento. Um foi a âncora do outro. Ele tinha filhos de outros relacionamentos, ela os adotou. Nuray amou os meninos e cuidou deles, como amava e cuidava do pai.

Pensou nos três meninos, que já não moravam mais com eles e estudavam no exterior, como explicaria a eles o casamento desfeito, afinal parecia o relacionamento dos sonhos, o casal ideal. Mais uma lágrima escorreu pelo seu rosto, limpou, levantou-se do sofá, em que se afundara desde que recebera o maldito material.

Nuray sorriu, lembrou-se do desconhecido e pensou para onde vão os sonhos, o que faço, quero saber?  

Ela trocou de roupa, pensando no desconhecido, no sorriso lindo, que havia deixado passar por bobeira, colocou um vestido vermelho que realçava a sua tez morena, e sentiu-se ainda mais bela. Talvez aquele desencontro inesperado pela manhã, tenha sido a força que precisava para decidir, que poderia ser minutos, horas, dias ou mesmo anos.

Ela não poderia se impor um tempo para isso. Mas naquele momento, arrependeu-se de não ter seguido o rapaz e repassado seu contato. Ele poderia, quem sabe, ser sua válvula de escape, sua doce e prazerosa vingança, afinal o sexo com Alev já não era lá grandes coisas.

De repente, Nuray imaginou que isto teria sido o motivo Alev procurar outra mulher para satisfazer seus instintos animais, e isso depois de tantos anos, mas também não justificava.

Mas eles poderiam conversar sobre o assunto, poderiam inovar na cama, havia tantas opções. Mais destruída ela ficou e se perguntou qual seria o motivo de Alev correr atrás de uma piranha qualquer.  

A noite chegou devagar e com ela Alev, o qual Nuray recebeu de braços abertos como se nada tivesse acontecido.

O único pensamento que veio a sua cabeça foi a frase de uma amiga que passara por sua vida e que gostaria de reencontrar e contar o que estava acontecendo, ela se lembrou que certo dia ela disse: a história de uma grande atriz em seu momento de vingança é sempre boa. Atualmente, Nuray estava pronta para interpretar.

Continua: parte III – Nuray e Baki

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